sábado, 12 de março de 2016

Pragas de Gafanhotos e Os Pesticidas

Ilustração: Praga de Gafanhotos
Em: 1884 na Alemanha
Livro de Alfred Edmund Brehm.
Desde o relato bíblico de Êxodo das dez pragas contra o Egito que o gafanhoto (principalmente a especie gafanhoto migratório) espalha fome e terror por onde ele passa.

No Brasil algumas das especies que mais causaram problemas forma o gafanhoto-sul-americano e o gafanhoto-crioulo ou argentino. Eles formavam enormes enxames que devastavam centenas de hectares de uma vez só. Os relatos da época são estarrecedores. 

Por exemplo, o Almanak Litterario e Estatístico de 1908 de Porto Alegre relatou que no mês de março de 1907 uma nuvem de gafanhotos invadiu Santa Maria, com tanta intensidade que o sol escureceu e os trens forram interrompidos pois não era seguro atravessar a nuvem com as locomotivas. 

O jornal gaúcho "A Federação" relatou em outubro de 1892 que uma praga de gafanhotos devastou tantas plantações na região da Serra dos Tapes, atualmente a área do município de São Lourenço do Sul. A praga obrigou os colonos a se mudarem para a cidades e pedir ajuda para não morrerem de fome.

Casos como estes deram a industria química o salvo conduto para desenvolverem todo o tipo de pesticida a fim de controlar as temíveis pragas.

As maiores pragas do gafanhotos da história ocorreram na África em 1891-1903, seguido por uma outra que durou de 1928 a 1941. Justamente neste período se intensificou o uso de pesticidas sintéticos como o D.D.T., e o  hexaclorobenzeno (HCB, BHC que acabou conhecido como ‘Pó de Gafanhoto’). 

Por muitos anos depois disso, o gafanhoto migratório Africano estava sob controle, o que talvez levou as autoridades em uma falsa sensação de segurança. Em 2004, milhões de gafanhotos gigantes entraram no Quênia pela Mauritânia, no noroeste africano, causando grandes prejuízos e destruindo muitas colheitas, na considerada a pior praga registrada nos últimos quinze anos. 

Já neste ano, uma invasão de gafanhotos destruiu milhares de hectares no sudoeste da Rússia e obrigou o Ministério da Agricultura do país a declarar estado de emergência na região de Stavropol. Segundo autoridades locais, a área devastada chega a 900 quilômetros quadrados, o equivalente a mais de 7 mil vezes o estádio do Maracanã. 

Alguns afirmam que a proibição do uso do BHC foi a causa de novas ondas da praga na África e na Europa, mas a verdade parece ser outra. O  região do Sahel experimentou vários anos de seca no final de 1970 e início de 1980. A volta dos ciclos normais de chova talvez tenha feito a praga retornar com força total nos últimos anos. 

Assim alguns especialistas afirmam que foi a seca e não o BHC que controlou a praga nas últimas décadas do século passado.

Os efeitos destrutivos das mudanças climáticas vão fazer ressurgir pragas como no passado, e como os agricultores atuais não estão preparados para lutar contra este tipo de situação, os danos serão ainda maiores do que foram a mais de um século.

Fica claro que a questão do controle de pragas depende mais do equilíbrio ambiental do que do uso de agroquímicos. 


Noticia de Praga de Gafanhotos - Jornal "A Federação" 18 de outubro de 1892


Noticia de Praga de Gafanhotos - Almanak Litterario e Estatistico de Porto Alegre - 1908

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